terça-feira, 11 de novembro de 2008

Você pode reescrever a história

Este ensaio faz parte do meu projeto de intervenção onde é apresentado a possibilidade da integração do ensino de Filosofia e a Literatura afro-brasileira e africana no ensino fundamental, ou seja, tratar de forma reflexiva o reconhecimento da população afro-descendente a valorização de sua história, cultura,identidade, e a invisibilidade do negro na literatura do país.
Ana Vitória Teixeira de Jesus, 08 anos tem cabelos cheios, crespos e trançados, todas as vezes que a mãe a chama para a lavagem da cabeleireira, a pequena chora, canta, dança sempre apresentando alguma dificuldade para a mãe adiar o ritual de desmanchar as tranças e começar a lavagem das madeixas.
A fim de tornar este momento prazeroso Ana Vitória foi chamada de princesa, porém, todos foram surpreendidos com uma resposta direta.
- Gente! Princesa negra não existe! Nem em casa, nem na escola eu nunca vi!
Por alguns minutos fez-se um silêncio constrangedor, onde se buscava responder a altura tal colocação, mas a resposta fugia do imaginário, fugia no sentido de não se ter referências de princesas e rainhas, de heróis e heroínas negras na vivência do povo.
É muito comum a criança negra desejar se parecer com a maioria dos heróis dos contos de fadas europeus, com modelos que aparecem em capas de revistas, com crianças brancas e louras que apresentam através dos veículos de comunicação perfumes, fraldas, sapatos e etc.
De acordo com os doutores em educação uma das saídas para o fim da desigualdade educacional no Brasil é a construção de um modelo concreto, para combater na escola preconceitos e estereótipos enraizados. Segundo os especialistas este modelo ajudará a enfrentar as desigualdades raciais que está tão presente no habitat educacional.
Partindo dos currículos a História e a Cultura Negra tem pouco ou quase nenhum destaque no cenário do país, diferente da cultura ocidental que está a todo tempo sendo lembrada pelos povos e governantes.
“Em Salvador, dos quase 2,5 milhões de habitantes existentes em 2000, 86% assumiram ser negros e mestiços. Bairros como a Liberdade, majoritariamente formado por afros descendentes somaram 600 mil moradores. De acordo com estimativas de 2005 do IBGE, a Bahia é o 15º estado brasileiro mais povoado do Brasil (NELSON LUIS, A TARDE ON LINE 26/08/2007)”.
De forma consciente ou inconsciente tornou-se natural tratar a história do negro apenas na perspectiva da escravidão e aceitar padrões estéticos e culturais de uma suposta superioridade branca.
Segundo dados da INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, a queda sistemática no desempenho dos estudantes da educação básica brasileira atingiu mais a população negra. Observa a evolução dos resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) no período de 1995 a 2001, mostra que a média obtida pelos alunos brancos da 4ª série do ensino fundamental em Língua Portuguesa, em 1995, era de 193,4 enquanto dos alunos negros era 173,8.
Como parte do processo para o fim da desigualdade foi criada a Lei 10.639 que busca ampliar a discussão e os projetos pedagógicos que privilegiam a igualdade racial.
A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR demonstra na cartilha criada pelo Governo Federal:
“O Decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares”. (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana p.09).
LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
OPRESIDENTEDAREPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR)
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 10 de março de 2008; 187o da Independência e 120o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Fernando Haddad

Vale ressaltar que cumprir a Lei é, pois, responsabilidade de todos e não apenas do professor em sala de aula. Exige-se um compromisso solidário dos vários elos do sistema de ensino brasileiro.
É possível concluir que crianças negras como Ana Vitória, enfrentam muitos obstáculos nas escolas, lembrando que é nas instituições de ensino que as crianças geralmente descobrem o que é preconceito...violência simbólica. Segundo Pierre Bourdieu “temos a atitude professoral, a qual pressupõe o uso legitimado de estratégias punitivas em relação aos alunos (como reprovações, apelidos, castigos etc...) que não se enquadram nos moldes sociais da instituição escolar”..
Parabéns Ana Vitória por ser tão transparente ao responder de forma objetiva a falta de referências negras em sua vivência.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ao me auto-avaliar

Tempo, preciso de tempo para construções baseadas em leituras, necessito do ócio construtivo para minha mente absorver os debates, as explanações, aquele comentário que desperta outra forma de entender o objeto estudado.
Textos criados nas madrugadas, necessitando de um olhar mais apurado, no entanto o tempo não o permite vem o cansaço e as leituras as construções escorrem entre meus dedos.
Penso que poderia ter feito postagens melhores para a disciplina "Educação e Contemporaneidade, que causasse gosto de fato, mais também percebo que todas as construções postadas foram feitas com compromisso e respeito pela profissional que é Josely e respeito pelos colegas de turma profissionais como eu que precisam de tempo/ócio para suas construções.
Ao me auto-avaliar, percebo minhas falhas.
Ao me auto-avaliar, percebo meus pontos fortes.
Ao me auto-avaliar, aprendo a buscar novos caminhos para a minha realização.
Ao me auto-avaliar, aprendo a me auto-conhecer.
Ao me auto-avaliar, tenho o estímulo para a busca de novos conhecimentos.
Ao me auto-avaliar, tenho momentos de satisfação.
Ao me auto-avaliar, fortaleço a relação aluna/professora.

Nesta peregrinação em que troco por enquanto só olhares com a Srª Educação, tendo como aliado o blog alimentando meu amor com o Sr Conhecimento, que com certeza nas atividades docentes, fundamentará minha reflexão no futuro próximo do “meu fazer pedagógico”.

"A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele" (Entre o Passado e o Futuro, Hannah Arendt)

A inclusão dos Iguais

Noenil é a minha expiração para apresentar o “Trabalho de Campo”, solicitado pela Mestra Josely da Pós Graduação, entendo também como forma de render-lhes homenagens, sim Noenil é aquela menina-mulher que dentro do universo educacional torna-se uma grande profissional.
Pois bem o contato de Noe é como vamos chamá-la nos meus escritos, com a educação deu-se de forma administrativa, ela ficou durante 11 anos exercendo a função de coordenadora/administrativa de uma instituição, neste período tomou a decisão também de cursar pedagogia na Uneb, curso este já concluído.
Como é comum no individuo as inquietações fez com que nossa menina fizesse um concurso pela Prefeitura da cidade de Salvador e pedisse demissão da referida instituição e ficou durante 01 (um) como professora de educação fundamental, aprovada no concurso expectativas transbordando, a pergunta que não se cala: qual será a escola que poderei aplicar minhas teorias e práticas educacionais?
O rio do destino levou Noe ao Pestalozzi, educação inclusiva? Isso só sabemos na teoria! como aplicar algo tão distante dos conceitos discutidos em seminários, livros, debates e tantas outras explanações? como trabalhar com os iguais?
Tabu educacional, cultural e social, onde o senso comum apresenta que só o profissional que tem vocação pode penetrar neste universo “especial educacional”.
Noe nem sabia que tinha vocação, “FOI” elaborou projetos, pensou em práticas e teorias fundamentadas nos doutores ditos em educação. Só que não funcionava, eram dias exaustivos, chorosos, dolorosos, contagiada diariamente com a vontade de desistir, porém nossa menina tem dons, vontade de verdade, e ouviu sua percepção como ser pensante e vivente, passando então a olhar o outro com suas limitações, avanços, cotidiano, história familiar e construiu práticas a partir de suas observações a partir de sua leitura de vida.
As atividades são dinâmicas, como diz a nobre colega, cita Noe:
“Todos os dias quando vou dar aula referente aos números, começo do número 01 (um), por que para meus alunos o número 01(um) não importância para leitura de mundo e sim a dinâmica que realizamos em sala para começarmos a contagem dos números”.
A história da educação inclusiva vem nos mostrando que a atuação do educador, jamais é neutra e responde a demandas que se inscrevem em um contexto político, econômico, social e cultural.
A educação inclusiva vem se mostrando como um desafio para Noe, ou seja, pensar educação inclusiva considerando como prática de inclusão social, e ela têm essa reflexão quando expõe nos seus diálogos que não podemos falar em educação especial sem pensar na educação para todos.
Noe apresenta aos alunos da Pestalozzi a possibilidade da inclusão a uma sociedade mais justa mais igualitária e respeitosa, ou seja, do acesso continuo ao espaço comum da vida em sociedade.
A sala de aula é composta por 15 alunos sendo 10 (dez) sexo masculino e 05 (cinco) sexo feminino, os iguais não são separados por deficiências neste universo guiado por Srª Educação eles se encontram.
O contato é de atenção e respeito ao outro, nossa alteridade de cada dia é mensurada, onde os iguais silenciosamente lembram para a sociedade, não sou invisível! faço parte do seu mundo.
Seguem Noe e os Iguais, o contato, o olhar, as brigas, as descobertas, tristezas e renovações peregrinam num caminho iluminado na busca da inclusão para todos tão certos como o sol que nasce a cada manhã.

Educadora Noenil Rose
15 Alunos
Sociedade Pestalozzi da Bahia
Rua Porto Tainheiros 74
Ribeira, Salvador, 40421580
(0xx)71 3312-1254‎
(0xx)71 3314-3751‎

Meu fazer pedagógico


Como se apresenta no meu fazer pedagógico a relação epistemológica pedagógica e em que medida isto ajuda ou dificulta a relação do meu projeto?
Se por “episteme” entendo o saber cientifico, sistêmico, metodológico, entenderei a “relação epistemológica pedagógica” como oriunda de uma pedagogia fundada no saber científico, numa pedagogia que une a vivência com a pesquisa, com o estudo de causas. Uma pedagogia que se pauta na ciência para aprimorar o seu saber e desta forma aperfeiçoá-lo.
A passagem da teoria a prática é complexa talvez isto cause sempre impacto nos projetos, nem sempre se tem certeza de que em situação didática real, redundará nos resultados desejados.
Que educação e para qual sociedade?
O que conceituamos como educação? aceitamos a significação comum, corrente da escola tradicional? o que é educar? passar conhecimento bancário? depositar informações que serão"mensuradas"nos processos tradicionais avaliativos? o que entendemos por sociedade? conjunto de indivíduos que compõem as massas das grandes metrópoles? o que é na prática, a sociedade? o que é, em última instância, a educação? transmissão de saberes? qual a representação da Srª Educação neste palco?
Entendemos a educação como um processo contínuo de permanente superação e desdobramento, não temos como negar o valor das práticas pedagógicas que são de fato decisivas para as mudanças e para o alcance de novos conceitos e modos de atuação de uma sociedade.
A crise do estado moderno é a crise do homem moderno, carente de valores e de significados, descaracterizado e alienado. Penso que é de fundamental importância redimensionar o papel e a formação do professor para esta sociedade nova.
O discurso humanitário e filosófico entende que o educador ao dialogar o conteúdo, permite uma troca de informações com o aluno, onde será observado seu cotidiano, seu nível de conhecimento, suas experiências e aí será desenvolvido método que exercite o intelecto através de reflexões independentes, construindo assim um sujeito com autonomia e responsabilidade nas suas ações, ou seja, seres reflexivos cientes de seus direitos e deveres no momento e lugar social onde vivem.
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade sem ela, tampouco, a sociedade muda". (Paulo Freire).
Freire fala da nossa capacidade de se relacionar com as coisas do mundo. O sujeito tendo consciência e uma visão global torna-se capaz de perceber o outro e os objetos do mundo de forma reflexiva.
Pensar a história dando dignidade ao sujeito de ler e escrever e narrar seu mundo, se fazendo através do tempo e do convívio com outro, a construção, realaboração, idas e voltas, narrar sua leitura de mundo.
Quais as minhas perspectivas de atuação?
Creio que o fazer do professor dever ser um fazer peculiar, exclusivo, característico de sua formação, de sua vontade pessoal e profissional. Tendo também dimensões vocacionais com habilidades específicas de execução, adaptação às realidades em que se encontra, fazer crer, ensinar e de aprender, o papel de transformar, de gestar seres pensantes, que interajam com o mundo de forma reflexiva, de construir com os educandos as ferramentas necessárias e indispensáveis à sua formação integral, podendo ser feita através de uma educação direcionada, que visa à maturidade do educando, que incomoda, destrói valores perpetuados por uma mídia alienante, desconstrói éticas e morais duvidosas que são engendradas pelos grupos que as geram e as impõe às classes dominadas. Podendo apresentar evidências que há muito mais para ser feito que simplesmente se alienar, se acomodar na apatia, na revolta improdutiva.
Como quero e como interfiro no mundo pela educação?
Desconstruir os valores superficiais e nocivos martelados pelo senso comum, e mostrar ao educando sua real importância como sujeito de um processo, fazê-lo perceber que não é simplesmente um objeto a ser manipulado; fazê-lo enxergar as nuanças que estão por trás dos processos de alienação, trocar experiências, apresentar caminhos que farão a diferença quando de sua cristalização como ser que atua, sujeito da situação, furtando-se então ao processo de "coisificação".
Sem dúvida é uma tarefa árdua, mas essencial, interfiro no mundo da Srª educação para formar sujeitos alimentados com responsabilidade, compromisso e sentido de vida.

Referências Bibliográficas:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma grande maratona para uma educação de qualidade

Neste universo denominado “Habitat Educacional, refletir sobre a Srª Educação é algo gigante, poderei fazer algumas colocações baseado nas vivências e leituras.
Parece-me que está existindo uma grande maratona para uma educação de qualidade, onde estão sendo revisados livros pedagógicos, participação da sociedade e a busca por parte dos profissionais do ofício em qualificação para não ficarem fora da perspectiva dos grandes homens do poder que clama aos quatros ventos que é o PDE Programa de Desenvolvimento Educacional que salvará a Srª Educação da sua mortificação.
Uma educação básica de qualidade. Essa é a prioridade do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Investir na educação básica significa investir na educação profissional e na educação superior porque elas estão ligadas, direta ou indiretamente. Significa também envolver todos — pais, alunos, professores e gestores, em iniciativas que busquem o sucesso e a permanência do aluno na escola (Brasil, 17 setembro 2008 http://portal.mec.gov.br/).
Mas será realmente que tudo isso se faz necessário?
Tanto o Nietzsche como Paulo Freire expressa uma preocupação pelos valores apregoados pela educação. Para Nietzsche em Humano Demasiado Humano “os valores são criados pelo homem”, sendo então competência da educação educar para a criação de valores, pois neste caso o ponto de partida para a formação do homem é a compreensão de que ele é um criador de valores.
Os conhecimentos assimilados durante o processo de leituras de tais pensadores possibilitaram reviver e reestruturar as bases educacionais e filosóficas dentro de uma análise crítica e reflexiva, que tem como objetivo gerar uma reflexão crítica das propostas educacionais, viabilizando um conhecimento humanístico e social, visto que tais prerrogativas encontram nestes pensadores vozes atuais nos debates “educacional/filosófico”.
A reflexão Filosofia sobre a educação como atividade docente proporciona a importância da formulação de juízos sobre a realidade no processo do conhecimento. A reflexão cria uma ponte entre o pensamento comum e o pensamento crítico, fazendo com que o educando aprenda avaliar em vez de preferir, classificar em vez de agrupar, inferir logicamente em vez de simplesmente fazer inferências e associar conceitos compreendendo seus princípios.
Nietzche critica a educação ministrada nas instituições de ensino de seu tempo, acusando-as de "apequenarem" o homem ao formá-lo apenas para servir aos interesses do Estado, da ciência e do mercado.
"Sobre educação. Paulatinamente esclareceu-se, para mim, a mais comum deficiência de nosso tipo de formação e educação: ninguém aprende, ninguém aspira ninguém ensina – a suportar a solidão" (Nietzche, Aurora).
Para Paulo Freire “Ensinar exige respeito à autonomia do ser educando”.
"O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legitima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta do dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência" (Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia).
Ainda na ordem das reflexões, Nietzsche propõe uma educação baseada no modelo dos grandes mestres, que com sua grandeza e genialidade fariam com que toda sociedade se elevasse culturalmente. O pensador propõe a idéia de um modelo de educador ao qual o jovem estudante poderá tomar como exemplo para si, como a melhor forma de encontrar a si próprio.
"Precisam de educadores que sejam eles próprios educados, espíritos superiores, nobres, provados pela palavra e pelo silencio, de cultura maduras, tornadas doces – não os doutos grosseirões que ginásio e universidade hoje oferecem aos jovens como ‘amas-de-leite’ superiores" (Nietzche, Crepúsculo dos Ídolos).
Voltamos ao PDE:
O que é o Plano de Desenvolvimento da Educação?
"Investir na educação básica significa investir na educação profissional e na educação superior porque elas estão ligadas, direta ou indiretamente. Significa também envolver todos - pais, alunos, professores e gestores, em iniciativas que busquem o sucesso e a permanência do aluno na escola. Uma educação básica de qualidade que vai dar bons frutos no futuro - Essa é a prioridade do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)" (Brasil, 17 setembro 2008 http://portal.mec.gov.br/).
Como síntese o universo educacional será abastecido com propostas e medidas apresentadas pelo governo federal que segundo os mentores é para beneficiar o educando buscando atingir a qualidade desejável para a educação brasileira
Mas será realmente que tudo isso se faz necessário?

Referências Bibliográficas:

_____________ Genealogia da Moral (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo:
Companhia das Letras, 1999.
_____________Humano Demasiado Humano (tradução de Paulo Cezar de Souza). São
Paulo: Companhia das Letras, 2000.
FREIRE, P. (1982) Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra (6ª edição), pp. 09-12.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Revista Educação. Nietzsche Pensa a Educação: edição nº02. São Paulo: Editora Segmento, 2007.
http://portal.mec.gov.br 17 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

O poder sólido da moral em Nietzsche

Além do Bem e do Mal (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo:Companhia das Letras, 2ª ed. 2002.

Dividido em aforismos – Além do Bem e do Mal – é a obra em que Nietzsche passeia por vários capítulos da história humana: no campo da cultura, da psicologia da religião, da moral, sexualidade, povos, países e personagens históricos.
É um Nietzsche dono de uma irreverência diante do moralmente estabelecido.
E assim cita Nietzsche:
“Toda a psicologia, até o momento tem estado presa a preconceito e temores morais: não ousou descer às profundezas compreendê-las como morfologia e teoria da evolução da vontade de poder, tal como força...um sintoma que foi até aqui silenciado”(pg 29) .
O pensador propõe uma análise histórica de como os valores morais surgiram no tempo, em que momento ocorreu e faz um alerta para os homens responsáveis pelos valores que passe a compreender o sentido do conceito “moral” o que significa bom e mau quando utilizados e lança uma crítica a psicologia por permanecer presa na busca da origem do valor e em saber qual o valor desses valores, pois a vida como critério de valor não pode ser avaliado por um vivente.
Voltando para Nietzsche:
“Tão logo se ocuparam da moral como ciências, os filósofos todos exigiam de si, com uma seriedade tesa, de fazer rir, algo muito mais elevado mais pretensioso, mais solene: eles desejaram a fundamentação da moral”(pg 85).
A citação nietszcheana é uma crítica aos filósofos que se empenharam em extensos estudos para a fundamentação de uma moral que tinha como padrão os conceitos e valores da Alemanha e França do século XIX. Partindo desta imposição social os ditos intelectuais voltaram para as teorias e conceitos da moral, como se estivessem em um palco representando uma personagem cujo nome seria “Etiquetas e bons costumes” para Nietzsche não houve também um debruço dos filósofos da moral para com as diferenças de classes “...de sua igreja, do espírito de sua época, de seu clima e seu lugar”(pg 86). Os homens sábios não tiveram a sensibilidade de distinguir entre as diferentes morais que mudavam de acordo com o clima, religião, tempo e lugar, pois são fatores que contribuem para a diferenciação dos conceitos e atitudes morais, respectivamente se muda o clima, mudam vestimentas, da mesma forma as religiões com seus dogmas para com os indivíduos, ou seja, os senhores proprietários da moral segundo o pensador, desprezaram e desrespeitaram os indivíduos tornando-os invisíveis e distantes do contexto histórico de seu Estado, por que para eles a verdadeira moral estava no adestramento do sujeito impedindo sua evolução.
Nietzsche é de uma total insubmissão diante dos valores tradicionais da cultura ocidental. Uma vontade permanente de mudança. Um anseio de liberdade recorrente. Para compreendê-lo em Além do bem do mal se faz necessário purificá-lo de todos os desvios posteriores que foram cometidos em seu nome, por que é através dos seus aforismos que ele expõe sua posição na historia, o de não aceitar que a moral e a arte fossem reduzidos a medíocres estudos feitos pelos homens e que em lugar do falso discurso judaico cristão fosse inserido uma cultura livre.
Partindo da leitura nietszcheana os donos da ciência da moral se encontravam presos em seus ambientes, mal informados, poucos curiosos aos hábitos do povo e não valorizavam a gnosiologia da moral, pois para Nietzsche a “moral” tem um poder sólido comparando aos seres orgânicos ela nasce, cresce e morre. E o ataque é para com aqueles que buscavam fundamentar algo sem voltar para as necessidades a qual era liberar o homem desta tradição, anunciando uma nova era, uma nova forma de pensar e agir através da transmutação dos valores.
Além do bem e do mal resultou em uma obra de coragem em que o autor ao remar contra maré presenteou uma contemporaneidade da discussão da decadência e da crise da cultura ocidental da nossa época.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Dinâmica da produção e da transmissão dos conhecimentos

Stuart Hall em seus escritos “A identidade cultural na pós modernidade” nos apresenta um sujeito “Pós moderno” como aquele que assume identidades diferentes, pois a estrutura que sustentava este indivíduo é modificada rapidamente, ela é dinâmica muda de acordo com o tempo, podendo também ser reinventada, isto devido ao deslocamento e mudança de valores e símbolos.
Como participante da vivência deste sujeito “pós moderno” a tecnologia tem dinâmica própria, segundo o artigo “O Blog como ferramenta para construção do conhecimento e aprendizagem colaborativa” de Conceição Aparecida Pereira Barbosa e Claudia Aparecida Serrano da Fundação Armando Álvares Penteado.
Segundo as autoras as ferramentas tecnológica inseridas no processo educacional rompe com a tradição e valoriza o processo do conhecimento tecnológico, o deslocamento do sujeito pós moderno rumo a esse novo saber cria possibilidade facilitadora no processo da apreensão do conteúdo.
O “Conhecimento” trafega provocando inquietações nos intelectuais envolvidos nas formas de apreensão do conteúdo.
Partindo dos antigos, Platão foi o primeiro pensador a demonstrar preocupação com a educação, tendo como ideal a escola pública, através da dialética, o estudo contínuo aos poucos ia se revelando e ao longo dos debates as reflexões iam dando formas as respostas. Para o pensador, a busca por respostas e o entendimento do conteúdo eram fundamentais para manter um forte laço educador/educando, no processo ensino aprendizagem.
As preocupações de Nietzsche acerca do futuro da educação e da cultura são ainda muito atuais. O questionamento atinge a raiz da atual sociedade tecnológica. Que tipo de ser humanos queremos formar? Podemos ainda criar e propor valores em meio e para além dos conhecimentos que circulam no ciberespaço? Para o pensador se faz necessário refletir acerca da dinâmica da produção e da transmissão dos conhecimentos.
O artigo chama a atenção para o fato de o recurso virtual denominado “CIBERESPAÇO” ser o local onde a produção coletiva se encontra. Por se tratar de um ambiente virtual, e por isso mesmo não estar sujeito às limitações espaço-temporais, a comunicação e interação aluno/professor ocorre independentemente de tempo e do espaço. Em função desta característica, percebe-se então a importância do Blog como suporte para aula presencial facilitando assim (segundo as autoras) o processo da aprendizagem:
“A decisão pelo uso do Blog se deu pelo ângulo da sua funcionalidade, ele se diferencia de todas as outras formas de relacionamento virtual (e-mail, chat, instant messages, listas de discussão, etc) justamente pela sua dinamicidade e interação possibilitadas pela facilidade de acesso e de atualização”(Conceição Aparecida e Claudia Aparecida) .
Deve-se considerar as dificuldades que ocorre no percurso com as novas tecnologias inseridas no mundo da Srª Educação.
Alerta para a utilização das ferramentas no cotidiano escolar: É a máquina que não funciona, os mais apaixonados executam seus projetos sem se preocuparem com a falta de preparo do sujeito, é o professor que acha que a máquina pode substituí-lo, portanto, não comparece a instituição de ensino e por fim a fragilidade que a máquina apresenta dando as pessoas o poder de sabotar ou vetar seu uso.
Para o sujeito pós moderno de Stuart Hall o blog é uma possibilidade de resposta a sua movimentação no mundo.
Para as autoras o modelo de educação estática é dissolvido dando lugar para vários caminhos de acesso ao processo de construção do conhecimento no universo educacional.
Para o educador é um desafio no sentido em que o respeito começa com professores preparados para utilizarem a ferramenta como processo de construção do conhecimento sem descartar os métodos tradicionais utilizados.
Para os educandos possibilidades de interagirem e absorverem a real necessidade do Blog no processo de aprendizagem.
“Quando a internet é utilizada como recurso de aprendizagem, a perspectiva de aquisição de informação é ampliada e o professor deve estar pronto para ajudar o aluno a progredir no processo aprendizagem”(Moran)